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Abertura oficial da Exposição “Destinos: o Sul Sul-americano” da Berod, por Karen Haas, na Casa das Artes Villa Mimosa em Canoas, em 05/05/2022,

Nesta quinta feira dia 05 de maio de 2022 foi a abertura oficial da exposição de arte ” Destinos: o Sul Sul-americano” da Berod, por Karen Haas, na Casa das Artes Villa Mimosa , em Canoas, RS. Contando com a presença da gestora da casa, Rosangela Cardoso e da Secretária adjunta da Cultura da Prefeitura de Canoas, Alessandra Dornelles, a mostra segue em cartaz até 24 de junho.

O Projeto “DESTINOS” da Berod vem se consolidando no calendário da região metropolitana  de Porto Alegre como um evento cultural e das artes visuais singular , e está na sua segunda edição. A primeira foi em 2019 , com a exposição “Atacama” ( https://aaidigital.com.br/2019/09/25/expedicao-de-moto/ ).  A exposição “DESTINOS: O SUL SUL AMERICANO” nasceu a partir de VIAGENS DE MOTOCICLISMO realizadas no verão de 2020 para a Patagônia Argentina e Chilena (antes da pandemia) e no verão de 2021 para serra e o litoral do sul do Brasil ( RS e SC). Relatadas através do filtro do olhar da artista de Karen Haas, que também  foi garupa e navegadora nestas viagens, foram mais de 11.800 km rodados nessas duas expedições, com passagem por mais de 26 cidades e 03 países ( Brasil, Argentina Chile ).

Através dos vídeos editados pela artista, fotos autorais , desenhos, aquarelas, telas em fineart e objetos têxteis de decoração com estampas autorais, mostra aspectos dos destinos percorridos: a Ancestralidade, a Flora, a  Fauna, as Paisagens, a Cultura, fazendo uma costura entre o extremo sul do continente Sul Americano (Argentina e Chile) com o Sul do Brasil (RS e SC). Revisita  a prática histórica de relatar, através da arte, peculiaridades dos destinos visitados em expedições por artistas viajantes e cuja produção encontra-se ligada ao ato de viajar, com vocação documental, acompanham  o deslocamento no espaço. Entre os principais objetivos da mostra , está proporcionar experiências estéticas a partir destas viagens , valorizando  destinos brasileiros e sul-americanos, fazendo com que as pessoas “sintam-se transportadas através da arte”.

A ANCESTRALIDADE E A CULTURA

“Uma viagem é muito mais do que se experiência no local visitado, muitas vezes os vestígios aparecem em um parque nacional ou num loja de venda de souvenir típicos. Para o visitante, as informações aparecem parciais, até pelo tempo que se permanece em cada local que não passa de um , talvez dois dias. Então a pesquisa complementar daquilo que nos instiga e emociona, é quase natural. Dos povos ancestrais que habitaram a região Patagônica, os Selk’nams chegaram a mim pelas fotografias antigas, publicadas em livros que se encontravam nas livrarias de Ushuaia . Já havia visto artefatos e fotos em outra viagem feita para o sul do Chile, quando visitamos um pequeno museu do parque Parque Nacional Vicente Perez Rosales , onde ficam os saltos de Petrohe, em Puerto Varas .E depois pesquisando em sites e outras bibliografias do assunto, conheci mais sobre esse povo cujo modo de vida era da idade da pedra (Paleolítico) e tiveram que lutar para sobreviver em grande desvantagem com os colonizadores europeus que ali também se instalaram. No início do século 20 , quando foram fotografados pelo missioneiro e antropólogo alemão Martin Gusinle, já estavam em avançado processo de extinção “.

Sua sociedade e rica cultura, podem ser melhor entendidas no site da Biblioteca Chilena , no livro Culturas Tradicionales Patagonia, Fin de un Mundo, Los Selknam de Tierra Del Fuego , por Anne Chapman, Taller Experimental Cuerpos Pintados , 2002 ( http://www.memoriachilena.gob.cl/602/w3-article-10111.html ).

Essas leituras e fotografias da época foram reinterpretadas no meu trabalho para coleção Patagônia. Aparecem como rostos indígenas femininos e alusões aos espíritos cultuados em seus rituais místicos que os auxiliavam na explicação da sua visão de mundo (os incorporavam através das pinturas corporais e alguns adereços), assim como alguns pictogramas rupestres estilizados e um grande sentimento de perda deixado pelo processo civilizatório humano ( seria esse o termo correto?) que ali se deu de forma predatória e marcado pelo extermínio.

Panô com originais em aquarela , grafite fazem uma releitura da ancestralidade e cultura dos povos patagões, bem como da paisagem, fauna, flora da região Patagônica.

Já na serra de Santa Catarina, mais especificamente no morro do Avencal na cidade Urubici, existem inscrições rupestres em grandes formações rochosas de arenito, num local onde se acredita que mais de um grupo ancestral viveu, em períodos diferentes. Grupos indígenas da família linguística “Jês” tinham características nômades, mas em algum momento seus ancestrais se abrigaram em grutas e cavernas do local, deixaram vestígios de sua arte rupestre, ora mais geométrica em formas retangulares ou triangulares, ora mais orgânica em forma de um rosto humano ou máscara do Guardião do Avencal. Acredita-se se tratar de um local sagrado para esses grupos e as técnicas utilizadas eram de baixo e alto relevo, algumas com pinturas internas, conforme estudos do Padre Rohr. Ainda em Santa Catarina, na praia da Ferrugem tem um sambaqui junto a beira da praia com a Barrinha, um antigo cemitério dos índios carijós. (http://www.revistaohun.ufba.br/pdf/Fabiana_Comerlato.pdf).

Em visita à casas históricas de descendentes de colonizadores alemães, numa outra viagem feita nos arredores de Pomerode, SC, ouvimos histórias sobre a dificuldade enfrentada por seus antepassados em fixar-se em meio a florestas com animais selvagens e disputando terras com os índios que habitavam a região, o que também aqui causou mortes e disputas por territórios.

Telas em fineart e texteis decorativos alusivas à inscrições rupestres do morro do Avencal, Urubici, SC. Tela em fineart alusiva às cordas e atracadouro do cais do porto de Rio grande., RS

Devido à esses achados arqueológicos , desenvolvi telas em fineart e têxteis decorativos com estampas a partir de um trabalho híbrido de desenho a grafite e fotografia.

A história de ocupação do espaço dos campos de cima da serra onde se formou, mais tarde, a cidade de Vacaria, iniciou-se no fim do século XVII, com o processo de demarcação e criação da “Baqueria de Los Pinares” pelos Jesuítas e Guaranis das Missões da Banda Ocidental, bem como da Oriental, do Rio Uruguai.

As vacarias eram repositórios de gado que estavam localizadas em regiões distantes dos núcleos urbanos. De certa forma, constituíam uma fronteira aberta do espaço missioneiro. Os limites eram imprecisos e o gado reproduzia-se sem a intervenção do trabalho humano. ( Saiba mais em Prefeitura Municipal de Vacaria).

Dessa história nasceu a estampa “Vacaria”, em têxteis decorativos expostos na exposição.

Texteis decorativos com estampa autoral alusiva às Vacarias dos Campos de Cima da Serra, RS.

A FLORA, A FAUNA E A PAISAGEM

A paisagem é azul junto às montanhas , com seus glaciares, e lagos de degelo. Além do marcante o Glaciar Perito Moreno em El Calafate, Província de Santa Cruz, Argentina, a paisagem está representada por três ambientes bem definidos: A Alta Montanha, o Bosque Andino Patagônico e a Estepe.

A Alta Montanha, com mais de 1000m de altitude, nos encontramos com relevos escarpados, vento , frio e neve, condições extremas que convertem esse ambiente em um dos ecossistemas mais hostis para a vida em todo o planeta. Sem dúvida, vivem ali espécies adaptadas a essa vida, pequenas plantas resistentes, coloridas, perfumadas e uma multiplicidade de polinizadores.

No Bosque Andino Patagônico, acontece debaixo da vegetação alto andina, está no nível dos lagos, predominam os bosques de Nothofagus, um grupo de árvores que suportam condições extremas.

Na estepe patagônica se destacam arbustos e plantas pequenas em forma de almofadas, adaptados a resistir em um ambiente onde as chuvas são escassas , a radiação solar é intensa e os fortes ventos secam suas folhas, como o espinhoso “Neneo “(Mulinum spinosum). Mesmo assim, seu aspecto é arrendondado e sua cor um verde cítrico muito alegre, com estética muito bonita.

Já o “Notro” ( Embothrium coccineum) possui flores avermelhadas alongadas muito peculiares, conhecidas como flores de fogo. Nos Andes essa planta é tida como medicinal, curando feridas, acalmando dores de dente e com propriedades antissépticas. Atinge de 6 a 8m de altura.

Em regiões mais austrais como a patagônia está o maior predador da região, o Puma ( Puma concolor). Sua conservação é de suma importância já que é o ultimo degrau da cadeia alimentar . Nos parques nacionais, a recomendação é a seguinte: se se encontrar com eles: grite, levante os braços, não corra, não lhe dê as costas!

Não se pode deixar de falar dos guanacos, camelídeos que estão por toda a região. E o zorro colorado, espécie de raposa, também adaptada a esse ambiente. (Publicação do Parque Nacional Los Glaciares, ANP: Administración de Parques Nacionales , AR). Conhecemos também os “Perros Fueguinos”, cães peludos e fortes, acostumados a neve.

Já na serra do sul do Brasil, Rio Grande do sul e Santa Catarina, o verde predomina e a Araucária ( Araucaria angustifolia) é o pinheiro brasileiro que se destaca por sua forma em forma de taça, pode atingir 50m de altura. Já foi muito explorada, hoje é espécie imune ao corte. A paisagem brasileira é muito rica, com diferenças relevantes, e cabe aqui citar a serra do Corvo Branco , entre Urubici e Grão Pará em SC, como marco da serra, com formações rochosas que fazem parte do sistema do Aquífero Guarani. Urubici também tem o morro da igreja com mais de 1800m de altitude , onde as temperaturas abaixo de zero e neve são muito comuns no inverno. A vista de lá para a Serra Geral e Pedra Furada são cartões postais da região. A praia da Ferrugem em Garopaba, também em SC, cuja paisagem é marcada por enseada e morros com vegetação nas proximidades, a cor do mar é límpida e esverdeada .

Já no Rio Grande do Sul, São José dos Ausentes tem 1.200m de altitude è uma das cidades mais frias do RS, um planalto com rios de pedra rasos e límpidos, campos com coxilhas e por vezes mata mais preservada ( toda a região da RS 020). No litoral extensa faixa de mar aberto e dunas, passando por Tramandaí até chegar em São José do Norte e Rio Grande, cidades ribeirinhas entre o mar e a lagoa Mirim, de uma beleza calma e clássica, pudemos atravessar a via fluvial de barca como é ainda hoje a única única forma de acesso de uma cidade para outra.

Tela em fineart retrata as cordas e atracadouro do cais de Rio Grande, numa arte hibrida com fotos e aquarela. Muitos registros foram através de fotografias e vídeos, que também fazem parte da exposição em forma de cartões postais, auxiliando na compreensão desses destinos de beleza única.

Conjunto de nichos de compensado naval abrigam fotografias em forma de cartão postal dos destinos visitados. O caráter da montagem assimétrica representa as diferenças do relevo e topografia , diferenças de altitude entre serra e litoral.

Apoio: Interiore Marcenaria ; Casa das Artes Villa Mimosa; Prefeitura de Canoas.

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